O Outro lado do Mundo

Foi um mês que passou... Mais um mês, outro canto do mundo.

Se me perguntarem agora que cheguei... o que sinto é uma M-I-S-C-E-L-Â-N-E-A de emoções.Às vezes penso "O que estou aqui a fazer?".

Eis a pergunta mais frequente de quem chega ao país retrato de África.

Experiência de vida é a resposta compulsiva que encontro.

A estrada Luanda - Cacuaco marcará a chegada de quem a fizer. São 20 km de estrada que tanto podem demorar 30 minutos como podem demorar 3 horas a percorrer. Mas não é só isso que marca a distância entre o nosso Mundo e o deste país...

A miséria é mais do que muita e irónicamente ou não eu vinha preparada para tudo, por isso de certa forma aqui nada me chocou brutalmente ainda, nem a estrada que tenho de percorrer diariamente! ( O Rui Nabeiro tem uma fábrica aqui ao pé. Alguém gostará de saber.)

A humildade de muitos também é imensa e a boa educação é o prato do dia!...

Depois de uns dias acordei estranhamente para a realidade, esta em que de um dia para o outro teimei em me inserir. E este despertar vem de forma que me tira forças, ainda que fugazmente, para permancer ao lado de algo que contrasta com o conheci toda a minha vida. Para recuperar forças penso que sou uma enorme sortuda pela vida que tenho e que voltarei a ter logo que apanhar um avião de regresso. E a experiência é algo que também me me serve de âncora, se não a maior!

Come-se muito bom peixe grelhado e marisco e bebem-se sumos de frutas com praia logo ali.

O Inverno, a estação do Cacimbo ilude-nos porque é bom e curto demais.

O Verão, a Estação das Chuvas são 9 meses de humidade e chuva e não tarda aí. Por agora não está demasiado calor nem demasiada humidade. A água é fria e à noite arrefece. Há praias consideradas de portugueses! Aqui o ar livre é o ambiente de eleição para tudo.

Em Luanda consegue-se ter uma boa qualidade de vida. Ginásio, optimos restaurantes e a noite é animadissima e cheia de portugueses.

Aprendi que os angolanos estão embebidos em ritmo musical, são bonitos, com uma postura imponente, corpos muito bem definidos e muito arranjados.

Adoro a Marginal de Luanda...

Luanda era com toda a certeza uma cidade lindíssima e acredito que daqui a uns anos sê-lo-à novamente.

O trânsito é mesmo algo de outro mundo! Aqui as distâncias não se medem pelos kms, medem-se pelo tempo que demoram a percorrer, o que as carrega de demasiada incerteza, que se tornam em certezas apenas à chegada, que depende exclusivamente deste trânsito que só nos atrasa a vida...
O segredo é tornar todas as situações caóticas, em hilariantes, o que no inicio é muito fácil...

Na rua às vezes parece um bocadinho que estamos noutro mundo, dentro de casa parece algo completamente diferente.

Luanda está a esforçar-se para voltar a ser umas das melhores cidades do mundo para se viver. Neste momento, ainda é apenas a cidade mais cara do Mundo.

Este é o Outro Lado do Mundo onde os candongueiros baptizam os seus famosos táxis azuis e brancos, de "Bom Zinho", "Sexolândia", "Lacueste", "Quim dos Bons", "Sinto muito, lamento pouco"; onde todos têm dois nomes, o original e aquele que desejam ; onde se ouve "Obrigado, sim!" em resposta a qualquer saudação que nos saia da boca para fora, onde Hiace se lê Iace, onde existe um restaurante que se chama "Naquele Lugar", onde tudo é possivel...

Tudo isto é um pouco do que eu imaginava, mas além disso é muito mais do que isso.

Com este bocadinho de mim envio-vos a Marginal de Luanda, uma das vistas que sei que andará sempre comigo.

Fazer uma viagem de Machimbombo é um dos meus "sonhos" aqui. Para sentir aos bocadinhos que estou aqui numa missão temporária.

Já tinha saudades de vos escrever...
LTC.