Peripécias de FA 2008

Multa de trânsito nas vesperas de Ano Novo...
Não soa lá muito bem...
Será tramado? É!
Estar a receber euforicamente um telefonema-convite para programa de fim-de-ano até ao SUL, quando um policia desmancha-prazeres e vai-se a ver G-A-G-O nos faz o sinal castrador de paragem forçada, não é das melhores sensações a proprocionar nem ao nosso pior inimigo, no período que imediatamente antecede a propriamente dita véspera de Ano Novo.
Imediatamente se constata que o senhor que sofre de gaguez, que é como quem diz, tartamudeia, balbucia, pronuncia com esforço, com hesitação, fala com embaraço, repetindo sílabas, nem livro formal de passagem das tais coimas tem, e repete várias vezes enquanto toma nota das informações que vai solicitando, num bloco de apontamentos: "N-n-n-não se preocupe!".
Pudera! se fosse eu, dotada de completa gaguez diria o mesmo quer fosse a tartamudear que em termos de conteudo.
Não será tão inacreditavel que a vontade de ir por aí rumo ao SUL se esvaneceu como um sombreado de uma qualquer célula de uma folha de cálculo que se vai tornando transparente à medida que vamos arrastando a barra de deslocação para a direita .
Por momentos desejei estar em Angola e com uma gasosa em resposta a qualquer frase proferida por um agente da lei angolano do tipo " Podemos resolver isto de outra forma!", ter resolvido o problema logo ali!
Concluo que tenho nacionalidade num país demasiado complicado e que proporciona momentos de enorme desilusão em épocas tão especiais, marcantes e de viragem como esta...
Juntando as saudades que tenho do calor e das praias, por pouco senti-me com vontade de estar não cá, mas de volta ao país que me faz frequentemente sentir falta deste onde pertenço e onde neste momento tudo acontece durante 20 dias. E lembro-me do António Variações...

Bom ANO!

LTC.

Um dia... (Mário Quintana)

Voltar...

Voltar é sempre uma lufada de ar, ar que mata a Saudade que por vezes nos mata por dentro uns bocadinhos.
Ir é promessa de resistir, voltar é sentir que a resistência não terá de ser eterna e trazer-nos-à de volta.

Voltar é permitir-nos sentir que o Ir tem os seus lados bons, mas que não nos deixam deixar de ter vontade de voltar. Este sentimento ambíguo é fruto de um coração dividido entre interesses opostos em lados opostos e que quando se encontram completam uma vida, a nossa vida.

Voltar é inspiração. Ver e rever pessoas, viver e reviver momentos, emoções diferentes das de habitualmente.
Provar a mousse de chocolate, o bolo rei da Graça e outras imensas iguarias que só na Home Sweet Home se confeccionam e onde degustá-los tem um sabor e um cheiro diferentes ou chamar-lhes-ía antes, especiais...
Sentir o crepitar e o calor da lareira...Sentir tudo aquilo que na maior parte do tempo não tenho por perto...

Voltar é fazer um spin off cerebral em que o ramo do cérebro associado ao que é importante no lado de lá se pode desagragar por uns dias do ramo do cérebro que é importante manter do lado de cá.

Voltar é voltar a ter tempo de ler e escrever!
Voltar no Natal é.....

Um assalto a uma das minhas livrarias favoritas permitiu actualizar a minha biblioteca, actualização esta que se materializou em várias aquisições literárias, nomeadamente a novíssima obra de Fernando Braga de Matos, que escreveu a famosa obra Ganhar em Bolsa. Desta vez traz-nos A Bolsa para Iniciados;

Outra foi O Arquipélago da Insónia de António Lobo Antunes:
"Ao pousar o livro sobre a secretária ainda tremo quando me lembro que este exemplar em particular me foi entregue em mãos pelo autor,
assinado e dedicado, no primeira (talvez única) oportunidade que tive para o conhecer. Ainda me ressoam nos ouvidos as palavras curtas e, apesar disso, tão longas que trocamos, o sorriso inesperado, o elogio sussurrado, a minha voz a tremer, as minhas mãos a tremer, o livro a tremer quando lho estendi, o livro seguro quando me devolveu, uns poucos minutos que vão ficar para sempre na minha memória e umas palavras que vão para sempre ficar escritas no meu livro, pela mão do génio Lobo Antunes, quem sabe próximo Nobel da Literatura português, já que é eterno candidato. E um conselho, um conselho que guardarei para sempre na sua voz sumida e pensada, "Nunca empreste livros", nunca os empresto caro doutor.
É, sem dúvida, um livro inquieto de uma mente genial. Poderia escrever pela noite dentro e mesmo assim não seria capaz de reproduzir aquilo que o livro me disse sem, de facto, dizer nada. A verdade é que para um homem encher um livro de silêncio é muito fácil. O difícil é enchê-lo de silêncio cheio de palavras. Isso, António Lobo Antunes consegue-o magistralmente."
Tim James Booth

Finalmente, A Viagem do Elefante de José Saramago, A Vida num Sopro, de José Rodrigues dos Santos e Tournée - Textos e Fotografias 1991-2008 de Gonçalo Cadilhe, com um texto sobre Angola pelo meio. Este autor que me faz lembrar além de dois amigos bem especiais, um terceiro que reencontrei recentemente, outro Viajante Solitário que está prestes a voltar de mais uma viagem.

"Em boa verdade, nunca ou quase nunca se viaja sozinho parte-se sozinho muitas vezes mas há sempre alguem ao longo do caminho a quem encontrar. Esse é, aliás, um dos grades prazeres das viagens solitárias. Partir sem ninguem mais e encontrar sem procurar. Porque, como eu gosto de dizer, não se encontra o que se procura, mas o que se encontra.Viajando sozinho vamos infinitamente mais longe. A ausência de conversas de circunstância aguça o olhar, a ausência de companhia leva-nos naturalmente ao encontro de todos os que passam....."Prefácio de Miguel Sousa Tavares in Viajantes Solitários

Para quem vai viajar, Boas Viagens!

Para quem preferir uma viagenzinha mais curta deixo-vos http://www.obidosvilanatal.pt. Façam primeiro o passeio virtual e depois concretizem-no fisicamente, pois para Óbidos qualquer ida vale a pena ainda mais no Natal. É delicioso sentir aí o espírito natalício. Se optarem por não ir fiquem a deliciar-se com as músicas de Natal.

Um BOM NATAL para Todos!
LTC.